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Appendice ao Padre Amaro.

SECÇAO II.

Na introducçaõ da 1a Parte deste Appendice promet→ temos de naõ deixar de todo a penna em quanto a for ça da evidencia nao tivesse posto a salvo das insidiosas manobras dos inimigos do throno Constitucional, naõ so os homens dotados de bom senso, e de boas intençoens, mas até aquelles mesmos, que fossem possuidos pela mais cega credulidade, ou dominados pela mais crassa ignorancia. Os acontecimentos que tem occorrido desde Junho de 1826, exigem o cumprimento da nossa temeraria promessa.

Dizemos temeraria, porque nao tendo calculado entao, nem sendo possivel ao nosso fraco entendimento prever, naquella epoca, os funestos obstaculos, que se tem multiplicado para impedir o inteiro cumplemento da regeneraçao Portugueza; os homens, e as cousas se achao boje envolvidos em tal confusao que so para os distinguir se precisa d'um talento superior; quanto maipara antever quais serao os ultimos resultados.

Em verdade, quando por huma parte se obsérva a razao e justiça com que foi dada a CARTA PORTUGUEZA-a sabedoria com que foi concebida-o legitimo direito, e magnanimidade de quem a outorgou-o enthusiasmo com que foi recebida pela Naçao-as felicitaçoens, e protestos de adhesao ao throno, e ao sistema constitucional, por todas as authoridades constituidas

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o assentimento das grandes potencias estrangeirassincera e edificante exortaçaõ dos Bispos, e Preladosa obediencia do Clero- a resignaçaõ dos Monges-a cooperaçao da Nobreza-o expressivo jubilo do Povo-em huma palavra, tudo quanto constitue o poder, a força, o direito, e a conveniencia de huma Naçao, tanto no que respeita á sua harmonia interna,como as uas relaçoens exteriores:-E por outra parte se está vendo hum Pigmeo Silveira descarregando golpes de gigante, e arremeçando montes sobre montes, para escaladar o Ceo, que elle sacrilegamente invoca como testemunha da puresa de suas intençoens, e como protector de seus horrendos atentados; fraco, mas atrevi do como quem confia em grandes forças, que lhe guardao as costas-de medianas posses, mas espalhando dinheiro como quem pode dispor de immensos thesouros;-criminoso de alta traição, mas ufano e prosumpçoso de suas façanhas, como quem está seguro de achar immunidade, e ate recompensa nos Paços Reaes á sombra dos Thronos; -infame, deshonrado, envilecido aos olhos da presente, e futuras geraçoens, mus gozando ainda de certo grúo de contemplação como se fora hum Heroe, ou capaz de o vir a ser algum dia:-quando se està vendo, e observando tudo isto, tornamos a repetir¿ quem poderà atrever-se a levantar o veo, que encobre as causas occultas de tantos fenomenos morais e politicos, sem expor-se ás terriveis vicissitudes da mais indiscreta temeridade?

Até aqui nada temos visto senaõ grandes e extraordinarios effeitos ¿ Podem elles acaso existir sem grandes e extraordinarias causas? E aonde se poderaỡ ellas encontrar? No interior do Reino, ou nas Naçoens

estrangeiras? A Espanha he atégora a unica Naçao declarada inimiga da CARTA PORTUGUEZA, apesar de seus insinceros prostestos do contrario ¿mas pode acaso a Espanha, por si so, e no estado de convulsao, e progressivo abatimento em que se acha, fazer tão cruenta guerra a Portugal? No interior do Reino so vimos ao principio o Marquez de Chaves,com alguns de seus parentes e adherentes, levantar o grito da rebelliao, e fugir logo; o que prova de sobêjo que esse grito provocou a indignação dos Portuguezes, mesmo nas provincias onde a mais corrupta seducção tinha procurado excitar a rebelliaõ; mas quando o Marquez de Chaves fora o bicho do mesmo nome, so seria capaz de meter medo a crianças, e não de fazer o estrago que tem feito, depois que se reforçou na Espanha com gente, armas, e dinheiro. Como sepoderá pois atinar com a verdadeira causa, sem que na investição, seja preciso recorrer a conjecturas, que forçosamente tem de recahir sobre a dissimulaçao, a duplicidade, a perfidia, e perfidia, e o perjurio de pessoas, e de classes, nas quais so he licito suppor honra, probidade, e boa fé?

Todavia, esta investigaçaõ he muito menos dificil que delicada e melindrosa; e n'isso consiste, a nosso ver, toda a difficuldade. Poucos ignorao a origem do mal; mas ninguem se atreve a indicalla, e muito menos a combatella. Por tanto, nos não nos julgamos mais authorisados que nossos contemporaneos, nem mais izem ptos do que elles, para naõ imitar o seu silencio, ou a sua reserva, Nos conhecemos, por experiencia propria o risco que corre, e as recompensas que deve esperar, quem francamente se a presenta só em campo para defender huma causa, ainda que seja

justa, e triumphante. Mas prescindindo d'esse grande risco, outra consideraçao mais preponderante nos aconselha a imitar o exemplo de nossos contempora neos, e vem a ser-a utilidade publica, que he sem duvida o que os obriga ao silencio.

Por tanto, limitar nos hemos taõsomente à inserçaõ dos documentos, e a exposição das verdades, que delles resultao; e coino o Marquez de Chaves se tem constuido o Campeao, ou por melhor dizer le buc émissaire das iniquidades de grandes Personagens, commecaremos pela invasaõ, que elle, á sombra d'uma protecçaõ estrangeira, realizou contra a sua Patria.

REINO DE PORTUGAL.

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Invasao do Reino de Portugal por varios Corpos de Tropa levantada pelas Anthoridades Espanholas, e commandos pelo de Marquez de Chaves.

Os rebeldes de Portugal, capitaneados pelo Campeao da anarquia o Marquez de Chaves, e outros degenerados Portuguezes, quasi todos parentes ou adherentes da familia Silveira, protegidos e auxiliados pelas authoridades d'Espanha, onde se tinhaõ refugiado,depois de haverem levantado o grito da rebelliaõ em differentes pontos do Reino de Portugal, ousaraõ consumar o maior dos crimes, voltando contra o seu legitimo soberano, e contra a patria, as armas que lhes forão dadas para defende-los. A' primeira noticia, e com bom fundamento na bem reconhecida e nunca assaz celebrada lealdade Portugueza, quizemos duvidar do facto; po

rem hoje que ja não he possivel duvidar de tão hor*rendo attentado, e muito menos occulta-lo aos olhos da Europa indignada, cumpre relatar todas as circumstancias aggravantes, á fim de provocar toda a indignaçaõ da Naçaõ Portugueza sobre os traidores que tem procurado manchar a sua honra, e denegrir o seu no

me.

O Primeiro grito da rebellião foi sem duvida hum grande crime, mas hum crime que, attendidas muitas circumstancias, podia ainda de algum modo achar indulgencia, como achou no governo, visto ter sido inconsiderado, ou talvez na persuasão erronea de que se defendia huma boa causa; porque, succede muitas vezes adoptar-se de boa fe uma opiniaõ viciosa, e os erros de entendimento nem sempre são indicios d'um coraçaõ corrompido, ou d'uma vontade malfazeja. Poren hoje que as medidas que se adoptao naõ saõ equivocas, pois que ellas tem o assentimento das Naçoens da Europa. e são alem disso fundadas em principios e rasoens demonstradas-hoje que ja todos os Gabinetes da Europa se tem declarado a favor da Carta Portugueza, e reconhecido a legitimidade com que ella foi outorgada, e a ordem de cousas que ella estabelece-hoje que o Senhor Infante D. Miguel, voluntaria e francamente adherio, da maneira a mais solemne, a todas as disposicoens de seu Augusto Irmao e Rei-hoje que a representaçao nacional, em virtude da CARTA, se acha constituida, instalada, e no exercicio de suas funcçoens-hoje em fim que a maioria dos Portuguezes exulta de alegria por ver chegado o termo de tantos inales, e começar huma nova carreira, que lhe assegura o discanço, e a felicidade ¿qué razao, ou mesmo que pretexto se podera offerecer, naõ dizemos ja para justificar, mas ao menos

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