Imágenes de páginas
PDF
EPUB

1 Soe 3796,27

HARVARD COLLEGE LIBRARY

COUNT OF SANTA EULALIA COLLECTION

GIFT OF

JOHN B. STETSON, IN

March 3, 1925

[graphic][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small]

DISCURSO RECITADO NA SESSÃO PUBLICA DE 19 DE NOVEMBRO DE 1856

PELO PRESIDENTE DA 1. CLASSE, SERVINDO DE VICE-PRESIDENTE DA MESMA ACADEMIA,

JOSE' MARIA GRANDE.

SENHORES.

[ocr errors]

ENHORES. A Academia Real das Sciencias vem hoje celebrar a sua Sessão solemne. Na presença e sob os auspicios do seu Protector e Rei o Senhor D. Pedro V, presidida por S. M. ElRei o Senhor D. Fer

T. 1. P. II.

1

nando II, ella vem neste dia dar-vos conta dos seus trabalhos, e apresentar-vos os resultados de suas fadigas litterarias e scientificas.

Desempenhado este dever, outro temos depois a cumprir, para honrar a memoria de alguns dos nossos consocios que a morte arrebatára do meio de nós. — E hoje reunimo-nos neste logar para lhes render esse culto de veneração e de respeito, que é devido ás intelligencias superiores; e para lhes pagar uma divida sagrada.

Traçando o elogio historico de algumas das suas illustrações, e imitando os bons usos dos seus antecessores, a Academia não vem erigir aqui tropheos de louca vaidade; vem sim inspirar-se na contemplação de tão bellos talentos, vem confraternizar com elles, e commemorar sobre a sua campa os serviços que prestaram á civilização e á sciencia.

Este dia é pois, para nós, um dia de saudade e de recordações! Estas homenagens tardias, mas insuspeitas, são o galardão a que aspiram os apostolos da sciencia. Não é no presente, é no porvir que elles confiam. Não é para os contemporaneos, é para a posteridade que appellam. Os seus pensamentos, atravessando os seculos, são o patrimonio das gerações futuras.

Esta nossa terra, nem é nem foi jámais estranha a nenhuma casta de grandezas. A sciencia tem tido aqui sempre cultores apaixonadosa milicia capitães de renome-a religião evangelizadores dedicados. Contamos desde remotos tempos entre os nossos Principes escriptores distinctos, nautas intrepidos, guerreiros illustres, e martyres heroicos.

O amor da sciencia, o da patria, e o da religião exararam as paginas mais gentis da nossa historia, uma das mais bellas da Euro

pa.

Se fomos os primeiros navegadores do mundo a estes tres sentimentos o devemos.

Foi na Escola de Sagres que começou a formular-se o maior commettimento dos tempos modernos. Se dobrámos o cabo das tormentas, a que pozemos o nome auspicioso da boa esperança, se abrimos de par em par a toda a Europa as portas do Oriente, foi porque a sciencia de sobre o promontorio de Sagres nos traçára o caminho por mares e mares nunca dantes navegados. Nós figuravamos então entre os primeiros cosmographos da Europa; e a estreiteza do patrio ninho, e a amiga visinhança dos mares, e as afortunadas expedições do Infante D. Henrique, tudo nos impellia naturalmente até aos mais remotos litoraes do mar das Indias, para ahi plantar o pendão

da Cruz, e o estandarte Portuguez; as crenças e a civilização Europea.

A nossa Academia obteve logo depois da sua creação um logar honroso entre as primeiras corporações scientificas da Europa. Os seus trabalhos e as suas publicações grangearam-lhe a estima dos sabios nacionaes e estrangeiros; muitos dos quaes deram até mesmo um grande apreço á distincção de pertencer-lhe. As nossas escolas tiveram epochas de notavel illustração, e contaram sempre entre os seus professores capacidades distinctas.

As nossas armas, valentes como os nossos soldados, quasi que contam as victorias pelas batalhas. Ellas tem conseguido sustentar o nosso nome e a nossa nacionalidade pelo decurso de sete seculos; e nessas luctas porfiosas o valor foi sempre dirigido e auxiliado pela pericia militar.

Mas não se contenta somente com estes titulos de gloria a epocha em que vivemos. A sciencia tem transformado e engrandecido as sociedades, quer pelas reformas introduzidas no governo politico e economico dos estados, quer pelos incessantes aperfeiçoamentos das artes. Os gozos da liberdade, os dons preciosos da ordem e da paz, os fructos do trabalho, as maravilhas da industria, o prodigioso desenvolvimento do espirito humano, tudo isto tem sido ou creado, ou aperfeiçoado pela sciencia, que é o grande e incançavel motor da civilização do mundo.

Dominados por este pensamento tiveram sempre os governos cultos por um dos seus primeiros deveres a protecção liberalizada ás Academias e ás Escolas-ás primeiras, porque a sua missão especial consiste no progresso e no aperfeiçoamento dos conhecimentos humanos -ás segundas, porque o seu transcendente objecto é propagá-los e diffundi-los por meio da exposição oral, e da demonstração experimental; concorrendo assim umas e outras em seu arduo sacerdocio, para alargar a instrucção, e com ella as faculdades intellectuaes, e as aptidões moraes dos povos.

As nossas principaes corporações scientificas sempre gozaram em Portugal da consideração publica e do favor real.

Protegida a nossa Academia no illustre reinado da Senhora D. Maria I desde os primeiros tempos da sua creação; tractada com cordeal benevolencia pelo bondoso Rei o Senhor D. João VI, distinguida durante o governo da virtuosa Rainha a Senhora D. Maria II, e durante a afortunada e esclarecida Regencia de S. Magestade o Senhor D. Fernando, não pode agora, esta nossa corporação scientifica, dei

xar de nutrir a animadora esperança de que ha de ser soberanamente amparada pelo seu Protector natural o Senhor D. Pedro V, desvelado e douto cultor das sciencias, e pelo seu Presidente o Senhor D. Fernando II, esclarecido amigo das artes e das lettras.

« AnteriorContinuar »