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PROLEGOMENOS

Nota I. Raça turaniana, sua prioridade na historia (pag. 41). A raça turaniana está representada hoje na Asia ocidental e Europa oriental e meridional pelos Hungaros, UraloAltaicos, Turcomanos, Kalmuks, Kirghises e Euskaros ou Bascos; na Europa setentrional pelos Laponios, Delfineses (França-Delfinado), Filandezes e Estonios; no norte d'Africa, pelos Tunizianos, Tuaregs, Algerianos, Rifenhos e outros membros da familia berbére ao ocidente; pelos Coptos, e Felahs no Egipto e pelos Fulahs, Galas e Somalis no Nilo meridional; na America por quasi todos os indios ou descendentes dos primitivos habitantes que os europeus lá foram encontrar, desde os ferozes Peles Vermelhas do Canadá até os pacificos Guaranis brasilianos e, no Extremo Oriente, pelos Ainos, primevos do Japão, que hoje todavia constituem um grupo áparte, perfeitamente diferenciavel no seio da nação japonêsa.

Como fica dito no texto, esta raça procede da Asia central. Entrando na Europa e na Africa, por sucessivas invasões, nos tempos prehistoricos e historicos, aqui se estabeleceu chegando a um grau relativamente grande de civilisação e passando depois á America, na opinião de alguns autores, atravessando e ocupando a Atlantida cuja antiga existencia como continente ou arquipelago inter-oceanico, ligando o velho ao novo mundo, admitem fundados na batimetria e nas analogias da flora e da fauna dos dois continentes africano e sul-americano

verdadeiras autoridades como são Gaffaret', Zaborowski' e Elisée Reclus, ou, como querem outros, tomando o caminho do Oriente e invadindo a America pelo norte, como a existencia dos Ainos no arquipelago japonico parece comprovar.

De todos os modos, a esta raça se deve a espantosa civilisação egipcia que tão profunda admiração causa aos que, desde a maravilhosa decifração dos hieroglifos feita por Champollion, a estudam; a civilisação peruana e mexicana que tantas analogias e pontos de contacto teem, na opinião dos sabios, com a que resplandeceu sob o domínio dos Faraós; e, se são verdadeiras as hipoteses dos que, penosamente curvados sobre os caracteres cuneiformes, querem vêr, pelas suas analogias com o euskaro ou basco, na lingua de Accad um idioma do grupo turaniano, a esta raça se deveria tambem a misteriosa civilisação da Assiria e da Caldeia, assim como, na crença de alguns, fruto da sua atividade foi se existiu. a magnificencia e poder dos habitantes d'aquela ilha Atlantida, onde, no dizer de Platão, << viviam reis celebres », « senhores da Libia até ao Egipto e da Europa até ao Thirreu » que « tinham fundado um imperio que abrangia toda a ilha e outras ilhas visinhas em grande quantidade, e até muitas partes do continente. »>

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Todos os povos hoje existentes da raça turaniana, a pezar da influencia arqui-secular dos diferentes meios onde tem habitado que, como o provaram recentes observações feitas sobre o negro americano comparado com o africano, podem modificar notavelmente as mais inconfundiveis caracteristicas morfologicas — e a pezar dos cruzamentos muitas vezes impostos pela vida social, tem afinidades etnicas e filologicas que os destinguem, quaes são: a sua dolicocefalia craneana e a analogia de vocabulario ou das regras de construção gramatical dos idiomas d'aqueles que, em estado mais ou menos prospero, os conservam; o que, com exceção do grupo africano ocidental na sua quasi totalidade, com todos succede.

A sua dolicocefalia, a pezar das negativas de Broca, provam-na superabundantemente os antropologos que como

1 Gaffaret, Etudes des rapports entre l'Amérique et l'ancien continent.

2

Zaborowski, Les mondes disparus.

3 Elisée Reclus, Histoire de la terre.

Retzués, Collignon e Deniker o afirmam baseando-se em observações proprias, depois de terem examinado milhares de craneos turanianos, ou fundando-se nas observações dos que o fizeram tanto na Europa, Asia e Africa, como na America. Quanto ás analogias dos idiomas turanianos entre si, são curiosissimos os trabalhos feitos até hoje, entre os quaes sobresaem, em primeiro lugar, a eruditissima Mémoire sur la langue basque, do ilustre chefe dos regionalistas da Navarra e ilustre escritor espanhol Arturo Compion, onde se compara a lingua euskara com os idiomas laponez, finez, hungaro e turco, e se propõe o problema a que já nos referimos da identidade da lingua de Accad com o basco, e, depois, a Langue basque et langues finnoises do Principe Luciano Bonaparte e o interessantissimo estudo Des affinités de la langue basque avec les idiomes du Nouveau Monde, cujos titulos claramente indicam o tema sobre que versam.

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Que esta raça cuja unidade hoje já não é posta em duvida foi a primeira a habitar a Europa prova-se, á falta de documentos directos que ou não existem ou são indecifraveis: 1.o Porque estando de acordo todos os autores classicos - Herodoto, Aristoteles, Thucidides, Pausanias, Esquilo, Strabão, etc., em reconhecer a primazia da ocupação dos pelasgos na Europa e sendo os pelasgos uma familia da raça turaniana da qual fazem parte tambem os iberos, esta afirmação dos antigos historiadores equivale á nossa; 2.0 pela afirmação de Strabão e Pomponio Mela que nos dizem que os iberos já se encontravam na peninsula quando os outros invasores a ela vieram; 3.o pelo facto das linguas turanianas serem aglutinantes e ser sabido que as linguas de flexão são de formação posterior áquelas; 4.0 pelas observações feitas sobre os craneos do periodo neolitico em Espanha, Portugal, Italia e Grecia e da edade dos metaes no norte da Europa que provam ter uma grande raça habitado o nosso continente antes da invasão ariana e que essa raça tinha os caracteres antropologicos dos turanianos; 5.0 porque o etrusco, lingua primitiva dos habitantes da Italia, cujos caracteres foram decifrados por Campbell, pertencia, segundo afirma este erudito filologo, ao ramo turaniano.

Todas estas razões, militando a favor de tal tese, parecem-nos serem suficientes para os estudiosos, a quem o problema da antiguidade ocidental preocupa, possam, ainda quando não disponham dos recursos com que contam os investigadores das civilisações da India, da Assiria e do Egipto e outras onde os testemunhos escritos não

faltam, dar como certo o que aos nimiamente incredulos parece muito arrojado.

De resto o papel historico representado por esta raça na historia da peninsula não está revestido de grande importancia actual. Nomes geograficos como Oloron, Alava, Beturia e alguns apelidos espanhoes ou portuguêses como Arriaga (de arri, pedra, e aga, entre) devem-lhe a origem, mas a sua influencia nos modernos idiomas peninsulares é insignificante. Em português só nas palavras ama (do euskaro amá, mãe), aprisco (do latim apriscus ou do euskaro abere ou apere, gado, rebanho), cartola (do eusk. cartolac), aio e aia (do eusk. aita, pae), goia (do eusk. boilla, redondo), esquerdo (do latim scaevus ou do euk. ezquerrá), laia (do eusk. laia, pá ou o que n'ela pode ser contido), picoa (do eusk. lapicua, panela), risco no sentido de «perigo » (do vasc. arrisco, pedregoso) e zorra (do eusk. azari, raposa), se pode salvo o melhor parecer de filologos autorisados vêr uma origem turaniana.

Nota II. Origem oriental do uso dos metaes (pag. 43). - Ainda quando nos falte em absoluto autoridade para emitir uma opinião sobre este assunto, julgamos mais provavel a segunda versão que damos no texto.

Deniker para fundamentar a primeira e sustentar a tese de que, habitando uma região riquissima em minas, é de supor que os iberos, motu proprio, empregassem os metaes, argumenta dizendo que « a falta absoluta de objectos orientaes, por exemplo, cilindros assirios ou egipcios entre o que se tem encontrado da edade do bronze na Europa, milita em favor da nova teoria, que sustentam sobretudo Salomon Reinach, na França, e Much, na Austria », isto é, de que o uso dos metaes não foi importado do Oriente.

Parece-nos forçada a consequencia. A falta de objectos orientaes pode apenas provar que, sendo importados em pequeno numero, os arqueologos ainda não tiveram a sorte de os encontrar, porque, de resto, o importar um uso ou costume não sinifica, precisamente, importar objectos.

Os iberos podiam ter importado o uso dos metaes, isto é: seguir o exemplo dos povos do Oriente que os usavam, sem trazer para o Ocidente os cilindros assirios e as figuras egipcias.

Não faltam argumentos a favor do que afirmamos. Os

turanianos que povoaram o Ocidente não vieram d'uma só vez; vieram em invasões sucessivas que podem ter durado desde a primeira, no periodo paleolitico, até os tempos proto-historicos. O crescimento sempre constante das suas tribus, causa generica de todas as migrações, que os levou a emigrar a primeira vez e a tomar o caminho do ocidente, agravada com o decorrer dos lustros e dos seculos, é natural que obrigasse os asiaticos, de geração para geração, a ir para onde outros os tinham precedido. Não foi assim que se deu a invasão ariana?

Ora, sendo assim, que dificuldade ha em aceitar que os ultimos emigrantes, passando pelo Egipto onde já brilhava uma civilisação pelos iberos nunca atingida, ou pela Assiria, aprendessem lá o uso dos metaesse é que já o não traziam da Asia Centrale, atravessando a Africa, viessem estabelecer-se, como querem alguns arqueologos, no sul da Espanha, lugar apropriado para o exercicio da sua industria metalurgica?

Certo é que, depois das suas emigrações para o ocidente, os turanianos do nucleo central podiam ter ido para o Oriente. Parece mesmo que foram, pois, como faz notar Mr. Chamberlain, professor da Universidade de Tokio, nos seus estudos dispersos sobre o Japão, e Rosny nas suas Questions d'Archéologie Japonaise, os ainos, primitivos habitantes d'aquele arquipelago antes da invasão mongolica, têm todos os caracteres da raça turaniana, assim como a sua lingua que deu origem, ou entrou na formação do actual japonês, tem todas as caracteristicas dos idiomas turanianos. actualmente conhecidos; mas, tal facto prova que a Europa só fosse uma vez invadida pelos homens que primeiramente a povoaram?

De resto, d'estas invasões sucessivas dos que, saindo do primitivo foco, se dirigiam para o ocidente, ficaram vestigios no itinerario.

Nas regiões uralo-altaicas, sobretudo, como refere Chaho 1, ha provas de grande peso que demonstram as intimas relações existentes entre os primitivos habitantes d'aquelas regiões, principalmente da provincia armeniana chamada Iber, abundante em minas de toda a especie, com os primeiros povoadores da Iberia, representados hoje pelos Euskaros ou Bascos.

1 Chaho, Etudes grammaticales sur la langue Euskarienne.

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