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Carta de D. Fernão Martins Mascarenhas a el-Rei

1568-Fevereiro 5

Senhor-Por Boroa screvo a Vosa Alteza a respeito (?) das cartas que elle trouve e iuntamente com iso todas as particularidades que depois das ultimas cartas que screvi a Vosa Alteza por via de Roma sam passadas, e por Boroa se ir dettendo mais do que por aviso de dom Alvaro tinha entendido, me pareceo dever pella via de Frandes screver in suma a Vosa Alteza o que mais largamente lhe screvo por Boroa.

Na cessam 6 se decretou que a 7a cessam se celebrasse a xi de Novembro, a qual pelo achaque da vinda do Cardeal de Loreina se prorogou em congregacam geral dos padres mais xv dias, e nam se podendo fazer asentaram que ate tres de dezembro se declararia o dia da cessam, e crecendo cada ora as duvidas antre os padres, se dilatou este dia, em que se avia de declarar o dia da cessam para xvii de dezembro, e a 31 do mesmo. Depois a xv de Janeiro, finalmente aos xvIII se declarou que a 4 de fevereiro se celebrasse a cessão. Neste tempo avendo muitas differenças antre os padres nom se podendo accordar, se prorogou a ditta cessam para xxu dabril, as defferencas sam as que Vosa Alteza verá pello decretto formado da residentia, e doutrina e canon 7° e 8° de ordine que

com esta seram.

Ha banda que quer a residentia ser de iure divino e a soperioridade dos Bispos sam o arcebispo de Bragua, Granada, Leyrea, e a mor parte dos prellados castelhanos e franceses, a outra é dos italianos e alguuns hyspanoes, e os padres da companhia de Jesu: em alguas cousas destas mencomendaram os legados que procurasse de os àccordar, na qual cousa fiz todo meu officio, e na residentia os acordara se nam foram meus peccados e alguuns destes prelados italianos nam deitarem mão do que se The offerecia, e quando vieram a querer, nem huns nem os outros se poderam concertar. Os franceses tambem por sy duvidaram das pallavras do canon 7o de ordine que vão nelle apontadas. Na qual cousa tambem a requerimento dos legados trabalhey pellos concertar. Tivemos hua audientia em minha casa, o embaixador Lansach e seus collegas que sam

lettrados e embaixadores, e outra depois desta em casa de monsenhor de Lansach com seus collegas e cinquo lettrados franceses, com os quaes Dyogo de Paiva e Belchior Corneio tiveram hua longa pratica, mostrandolhe por muitas rezoens e concilios antigos que Belchior Corneio alegou, como aquellas pallavras do canon 7o, toccantes a authoridade de Sua Sanctidade, a igreja usara antiguamente, e os proprios seus concilios de Leão e de Basilea, de maneira que a meu juizo e creo que de todo homem desapassionado, elles lhes mostraram que as pallavras postas no canone lhe nam faziam prejuizo alguum. Todavia elles por sua antigua openião do concilio ser sobre o papa, dizem que as nam consentiram e se iram, se as poserem, porque asi o tem de mandado de seu Rey que nesta materia nam fallem nada, mas que fallando se nella por nenhum caso consintam cousa que lhe faca prejuizo á sua openião.

Da outra parte sobre a residentia se tinha comettido em congregacam geral ao cardeal de Loreina e ao cardeal Madrucio fazer o decreto conforme aos votos dos Padres, os quaes dous cardeaes com os prellados que Vosa Alteza verá pela lista que delles lhe mando o fizeram e derão aos legados. Os italianos que ao fazer delle se acharam o nam consentiram, e em casa do cardeal de Loreina e depois ante os legados o contrariarão, a qual contradiçam os legados quiseram ver se podiam por em concordia e de nam no acharem com que a cessão se podesse celebrar quietamente e sem scandalo, e juntamente nam podendo accordar no canon 7° com os franceses, foram causa da dilacam da cesão por verem se n este tempo podem achar alguum remedio, o qual Deus dará se for servido, posto que em verdade que de todas as partes se emxergua que pode mais a carne e o sangue que o spirito.

Tem se ditto que neste meo tempo ate a cessam se tratará de matrimonio, oje começaram os theologos a disputar os artigos sobre elle que com esta seram e que se tratará de reforma, na qual Sua Santidade se tem penhorado muito comigo, por cartas do embaixador dom Alvaro de Castro, e do cardeal Bomrromeo, e aguora ultimamente por propria carta sua, em que se refere ao que de sua parte me dirá monsenhor Visconti, hum prellado que os dias passados o concilio mandou a Sua Santidade, o qual Visconti logo me apontou que no datariato tinha comecado a tirar no datariato (sic) o que Vosa Alteza verá por essa lista que delle mando que isto me mandava logo dizer porque era toccante a huas lembrancas que eu tinha mandado a Sua Sanctidade e que outras mais cousas se fa

riam. Quererá Nosso Senhor que se faca o que compre a seu serviço, e bem da christandade.

Ho habito de Christo que o cardeal de Mantua tem mandado por mi pedir a Vosa Alteza spero cada hora reposta, e que seia tal como o cardeal a merece, e eu spero pela parte que me nisso vay.

Os franceses tem dado alguuns capitulos de reforma, a coppia com o que de novo ouver mandarey com o correo Boroa a Vosa Alteza. Nam se offerecendo outra cousa Nosso Senhor a vida e real stado de Vosa Alteza guarde e conserve. De Trento em 5 de fevereiro M. D. LXIII.- Beyjo os pes a Vosa Alteza-Dom Fernão Martins Mascarenhas 1.

Breve do papa Pio IV ao cardeal
infante D. Henrique

1563-Fevereiro 6

Pius Papa -Dilecte fili noster salutem et apostolicam benedictionem. Exposuit siquidem nobis Charissimus in Christo filius noster Sebastianus Portugalliae et Algarbiorum Rex Illustris, quod diversae questiones, lites et differentiae inter Praeceptores militiae Jesu Christi Cisterciensis ordinis, aliàs in regno Portugalliae institutae, ac locorum ordinarios et eius officiales et Ministros super visitationibus parrochialium et aliarum ecclesiarum, ex quarum fructibus preceptoriae ipsae fundatae existunt, per eosdem ordinarios, officiales et Ministros pro tempore factis, et aliis oneribus eisdem ecclesiis ordinarie incumbentibus, ad quorum solutionem Praeceptores ipsi tenentur, quotidie oriuntur, quo fit, ut earundem ecclesiarum edificia ac paramenta et ornamenta ecclesiastica in dies deteriorantur, et earum manutentioni prout decet, non subvenitur, et nisi desuper provideatur, ecclesiae ipsae maximas iacturas et damna passurae videantur, et si aliqua pars ex ipsarum praeceptoriarum fructibus et emolumentis taxaretur, et moderaretur, illaque singulis annis per aliquos probos viros ipsarum ecclesiarum parrochianos extraheretur seu exigeretur, et penes eosdem deponeretur, et postea in ecclesiarum ipsarum fabricarum reparationem aut illa

1 ARCH. NAC., Gav. 2.*, Maç. 5, num. 11.- Sobrescrito: A el Rey Nosso Senhor.

rum vel paramentorum et ornamentorum ecclesiasticorum manutentionem, aut alios necessarios usus, iuxta ordinationes ordinariorum in quorum civitatibus vel diocesibus ecclesiae et praeceptoriae ipsae consisterent, exponeretur, et si quid ex ipsa parte superesset, per dictos viros usque ad sequentem vel sequentes annos conservetur, et deinde unà cum alia parte eiusdem sequentis anni, in alias maiores necessitates, iuxta dictam ordinationem exponerentur ita quod Praeceptores ipsi ad nihil aliud ratione visitationis praestandum aut solvendum tenerentur, nec obligati remanerent; ex hoc profecto submotis litibus et controversiis huiusmodi praedictarum ecclesiarum manutentioni et divini cultus decori magnopere consuleretur. Quare idem Sebastianus Rex nobis humiliter supplicavit, ut praemissis opportunè providere, de benignitate apostolica dignaremur. Nos igitur, qui ecclesiarum quarumlibet manutentionem et divini cultus augmentum gerimus in visceribus charitatis, de tuis insigni doctrina, claris virtutibus, et singulari in rebus agendis experientia, ac etiam nobis in longe maioribus perspecta dexteritate, plurimum in Domino confidentes, ac certo habentes, quae tibi duxerimus committenda, animo et sollicitudine indefessis, curabis adimplere, huiusmodi supplicationibus inclinati, circunspectioni tuae per presentes committimus et mandamus, quatenus summariè, simpliciter, et de plano sine strepitu et figura iudicii, solaque facti veritate inspecta et manu regia extra iudicialiter procedendo, de fructibus, redditibus et proventibus singularum praeceptoriarum dictae militiae per te ipsum aut alium seu alios tibi benevisos te diligenter informes, et solus seu assumptis tibi personis tibi benevisis summam seu quantitatem ex singularum praeceptoriarum earundem fructibus redditibus et proventibus tibi et seu eisdem tecum assumptis personis benevisis taxes ac modereris, illamque sic taxatam et moderatam singulis annis perpetuis futuris temporibus per aliquos probos viros ecclesiarum ipsarum Parrochianos per te ad id deputandos, etiam Praeceptoribus praeceptoriarum huiusmodi aut aliis quibusvis non expectatis neque vocatis extrahi, aut ab arrendatariis exigi, et penes se conservari, ac postea in fabricarum ecclesiarum earundem reparationem aut illarum seu paramentorum et ornamentorum manutentionem aut alios necessarios usus iuxta providam ordinarii loci in cuius civitate seu diocesi ecclesiae ipsae consistent ordinationem, exponi, et si quid, oneribus illius anni decenter supportatis, supererit, illud penes eosdem probos viros usque ad sequentem vel sequentes annos conservari et postea unà cum summa seu quantitate eiusdem sequentis anni ut prae

per

fertur extrahenda vel exigenda in maiores necessitates ipsarum Ecclesiarum et Praeceptoriarum aut maiora onera illis forsan incumbentia iuxta eandem ordinationem exponi debere, auctoritate nostra statues et ordines, ipsosque Praeceptores ad aliquid aliud ratione visitationis huiusmodi dictos locorum ordinarios pro tempore faciendae, praestandum aut solvendum, minime teneri, nec ad id a quoquam quavis auctoritate cogi aut compelli posse decernas, ac alias et alia facias et exequaris, quae Tibi circa praemissa necessaria et opportuna ac facienda et exequenda videbuntur. Nos enim Tibi praemissa omnia et singula faciendi gerendi exercendi et exequendi, necnon quoslibet quacunque dignitate statu gradu ordine et conditione fulgentes, etiam per edictum publicum, constito sumariè de non tuto accessu, citandi, ac quibus et quoties opus fuerit, etiam sub ecclesiasticis censuris et etiam pecuniariis tuo arbitrio moderandis et applicandis poenis, inhibendi, Contradictores quoslibet et rebelles censuris et poenis huiusmodi appellatione postposita compescendi, et illas incurrisse declarandi, aggravandi, reaggravandi, interdicendi, auxilium brachii secularis invocandi, ac quicquid in praemissis statueris et ordinaveris, decreveris ac feceris, et executus fueris exequendi, et quacunque appellatione remota per illos, quorum intererit observari faciendi, et eos ad illorum omnium observationem per similes censuras et poenas cogendi et compellendi, plenam et liberam licentiam et facultatem concedimus. Non obstantibus quibusvis constitutionibus et ordinationibus apostolicis ac militiae et ordinis praedictorum iuramento confirmatione apostolica vel quavis firmitate alia roboratis statutis et consuetudinibus stabilimentis usibus et naturis, ac earundem ecclesiarum et praeceptoriarum erectionibus et institutionibus contrariis quibuscunque, Aut si aliquibus communiter vel divisim ab apostolica sit sede indultum quod interdici suspendi vel excommunicari non possint per litteras apostolicas non facientes plenam et expressam ac de verbo ad verbum de indulto huiusmodi mentionem. Datum Romae apud Sanctum Petrum sub Annulo Piscatoris die VI Februarii M. D. LXIII. Pontificatus Nostri Anno Quarto 1.

ARCH. NAC., Maç. 28 de Bullas, num. 12.- Sobrescrito: Dilecto filio Henrico tituli Sanctorum quattuor Coronatorum presbytero Cardinali Infanti Portugalliae nuncupato, nostro et apostolicae Sedis in Portugalliae et Algarbiorum Regnis Legato de latere. 8

ΤΟΜΟ Χ.

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