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SEGUNDA PARTE

Unificação peninsular e constituição da Espanha moderna

SEGUNDA PARTE

Unificação peninsular e constituição da Espanha moderna

CAPITULO I

O espirito da Renascença

Com o achado das Pandectas, em Amalfi e ulteriores descobrimentos feitos no terreno até ali inexplorado das letras classicas, com os progressos no estudo do grego e do latim, começaram pois a dominar na Europa poderosas correntes de um neo-paganismo avassalador.

A vaidade dos que extasiados ante a propria obra desfaleciam de prazer na contemplação de si mesmos e na admiração viciosa e pueril das produções dos que eles, juizes de sua causa, classificavam de << preclaros engenhos », tinha dado lugar a que a maneira de ser da epoca fosse singularmente propicia a taes aberrações.

Havia passado o tempo em que o estudo da filosofia de Aristoteles só servia para robustecer a inteligencia cristã que, certa da verdade, não tinha escrupulo em apropriar-se de tudo quanto os povos antigos

seus irmãos mais velhos tinham deixado, para com esses restos tornar mais robusto e mais belo o templo do seu Deus.

Agora reinava um orgulhoso desejo de perfeição absoluta em todos os campos da actividade humana, e esta ambição contraria á sinceridade e humildade de epocas anteriores levava os homens do seculo xv a despresar radicalmente toda a obra da Idade Media.

Se, dadas estas condições, os restos da antiguidade paga não tivessem brotado do solo, e das ruinas de Bisancio não houvesse vindo a aluvião de Classicismo que por aquele tempo invadiu o mundo ocidental, a Europa catolica houvera seguido por outros caminhos, muito differentes de certo, mas não, por isso, teriam deixado de ser identicos os resultados.

Tinha-se perdido o conceito da natural incapacidade do homem para alcançar de um modo integral o idealmente belo e o idealmente bom e queria-se-lhe impôr uma tarefa superior ás forças. A comunidade europeia, ensoberbecida com os resultados de tanto esforço, orgulhosa com os triunfos alcançados contra a barbaria e a incultura, julgava-se omnipotente, e cega pela insania, intentava a construcção de alta torre que chegasse ao ceu, obra de deuses que não de homens.

Esta foi a causa da sua desgraça.

Os que até ali tinham tido um só espirito e um só ideal, viram-se dispersos sobre a terra, divididos em tantas escolas quantas as de aqueles que em sua loucura pretendiam alcançar a perfeição.

A ingenuidade e a singelesa medieval, foram escarnecidas e despresadas. Aqueles orgulhosos não lhes bastava a boa fé do que, cheio de humildade mas confiando na Providencia, trabalha para fazer bem. Não lhes parecia bastante refinada a conducta do ar

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