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el hombre que á una mujer

donde quiera que la viere
no le hiciere cortesia,

por no biene nacido quede;

aqueles espiritos arrogantes, por fim, que proclamando por sua vez o que desde os primeiros tempos da Espanha sempre se consignou em seus codigos verdadeiramente nacionaes, se consideram

como absolutos señores

de elegir a nuestro arbitrio
rey que nos gobierne; pues
siendo de nosotros mismos,
és fuerza en paz y justicia
mantenernos, advertido
que podremos deponerlo,
pues pudimos elegirlo.

E enquanto Teresa de Jesus, a mistica doutora, encerrada n'uma fria cela de um mosteiro sombrio, ardendo em fogo sobrenatural d'uma piedade intensissima, escrevia:

Aquesta divina union

Del amor en que yo vivo
Hace á Dios ser mi cautivo
Y libre mi corazon:
Mas causa en mi tal pasion
Vér á Dios mi prisionero,
Que muero porque no muero.

Ay! Que larga és esta vida
Que duros estos destierros!
Esta carcel, y estos hierros
En que el alma está metida!
Solo esperar la salida

Me causa um dolor tan fiero

Que muero porque no muero;

enquanto, sofrendo os fogosos anhelos do céo, invocava a morte e aborrecendo a existencia lhe dizia:

Acaba ya de dejarme
Vida, no me seas molesta;
Porque muriendo, que resta,
Sino vivir, y gozarme?
No dejes de consolarme
Muerte, que ansi te requiero,
Que muero porque no muero;

a grandeza espanhola que tinha por base e alicerce este mesmo amor de Deus e este mesmo desprezo pela vida, sentimentos inatos nos que se encontravam incumbidos de sublimar sua patria ante os homens e ante os seculos, resplandecia sobre o trono que estas virtudes lhe haviam construido.

Ilustrada e culta sob o cetro de um monarca como Filipe II que ordenava a seu embaixador em Paris que lhe comprasse para o mosteiro do Escorial, quantos livros podesse obter, e que com todo interesse escrevia ao Dr. Arias Montano para que tratasse de adquirir « todos los libros exquisitos, asi impresos como de mano » que em Anvers se lhe proporcionassem, a nação espanhola, religiosa e intransigente, dogmaticamente unida e compondo um só corpo animado por uma só alma, caminhava na vanguarda do progresso.

Numerosissimos centros escolares, autonomos e rivaes entre si, frequentados por milhares de estudantes; mosteiros e conventos onde as ciencias divinas e humanas eram cultivadas com tanto esmero como nas universidades; bom gosto publico educado e refinado na contemplação do que é digno de ser visto; espirito de observação e critica desenvolvido pelas aventuras; tudo foram factores que contribuiram para dar á Espanha, sob a então feliz hegemonia de Castela, o posto previligiado que ocupou.

E como esse posto fosse bem elevado; como em ciencias, artes e letras a civilisação hispanica, exu

berantemente provida, a todos em tal epoca dictasse a lei ou, pelo menos, ás melhores se igualasse, essa cultura irradiou.

Não podia circunscrever-se á peninsula o que sentia em si força e energia para criar mundos. Em consequencia a atividade espanhola achou campo adequado à sua acção no que destinguiu as nações ibericas na expansão colonial; encontrou seus titulos de gloria no que havia de ser simultaneamente aureola de sua grandeza e causa da sua decadencia, e na America foi onde maiores louros colheram aqueles que, por haverem sabido repelir o conquistador, estavam aptos para a conquista.

CAPITULO V

A civilisação do Novo-Mundo

Impossivel é, folheando as cronicas dos tempos antigos e modernos, encontrar feitos que de longe se comparem aos heroicamente estupendos que, com sobrehumano esforço, realisaram aqueles guerreiros e navegadores audaciosos que, partindo dos portos da nossa peninsula em miserandas embarcações, souberam com a força de seus braços e a fé de seus corações, conquistar um mundo.

Percorrendo as obras, epicas e ingenuas simultaneamente, de aqueles varões que, como Julio Cezar e Jaime o conquistador, se comprazem em relatar com modesta singeleza as acções por eles proprios praticadas; embevecendo-nos com a insuperavel e espontanea beleza d'aquelas narrativas em que, testemunhas oculares, nos contam, com estilo quasi sempre descuidado e inculto, os homericos episodios de que eles foram, a um tempo, auctores, cronistas e

actores; assistindo em espirito áquelas batalhas espantosas e tremendos trabalhos em que estiveram e pelos quaes passaram os poucos que, cegos pela propria temeridade, se lançavam á conquista do desconhecido; evocando aquelas scenas sem igual que tão fielmente nos descrevem os mesmos que n'elas se acharam; a inteligencia confunde-se, a alma sente-se sobrecolhida de espanto e aquele que, hoje, passados quatro seculos, lê taes maravilhas, julga sonhar, supõe ser fantastico o que ali se conta e, mais do que um livro de historia, parece-lhe uma lenda, uma quimera, o que diante dos olhos tem.

E é que todas aquelas façanhas inverosimeis, todos aqueles heroicos feitos que Pedro Cieza de Leon na Cronica del Peru, o « adelantado » Alvar Nuñez Cabeza de Vaca nos seus Naufragios y comentarios, Francisco de Jerez na Verdadera relacion de la conquista del Peru, Hernan Cortés nas Cartas de relacion dirigidas ao imperador Carlos v e, especialmente, Bernal Dias del Castillo, na Verdadera historia de la conquista de Nueva España, nos contam, raiam no mitologico e, mais do que feitos de homens, por conscienciosos historiadores referidos, assemelham-se a fabulosas aventuras de deuses, cantadas por poetas.

De epicas se podem classificar as descobertas e conquistas peninsulares! aqueles homens que, com a esperança em Deus e para obedecer á sua rainha, se colocam sob as ordens de um desconhecido a quem o mundo chamava visionario e louco e se lançam ao mar, cruzam o oceano e desembarcam em desconhecidas praias; aqueles varões que, com intrepidez espantosa, internando-se em misteriosas florestas e sulcando caudalosos rios, percorrem um vastissimo continente; aqueles soldados que, ás ordens de um aventureiro e atravez de mil perigos, com a morte sempre

suspença sobre as cabeças e sem um unico lugar certo de refugio para onde se retirem, dão batalha a tribus ferozes cuja importancia lhes é desconhecida; aqueles missionarios que, sem temer á morte e á tortura, chegando onde ninguem chegou e encaminhando-se para onde ninguem foi, levam a palavra de Deus e a luz da civilisação ás nações barbaras; aqueles marinheiros que, descobrindo novas terras e navegando novos mares, dão a volta ao mundo; aqueles intrepidos exploradores que, instigados pela curiosidade cientifica, chegam até as regiões boreaes e reconhecem os mares do norte; tudo, enfim, o que constitue um dos incontestaveis titulos que possue a Espanha á gratidão do mundo, é coisa poucas vezes igualada na Historia, é terreno em que poucos povos podem com ela conpetir, porque poucos, entre os mais activos e esforçados, entre os mais pundonorosos e empreendedores, teve uma America para descobrir, vencer e civilisar, e só alguns, poucos, rarissimos, podem ostentar nomes que se equiparem aos de Colombo, Cortés, Bartolomé de las Casas, Bartolomé de Olmedo, Hernandes de Oviedo, Kino de Trento, Cabrillo, Ferrelo, Delcano, Balboa, Legazpi, Galiano, Valdés e outros, muitas vezes esquecidos.

Tambem, em realidade, poucos povos se encontravam, ao tempo da conquista da America, tão aptos como a Espanha para a sua obra colonisadora.

Outros poderiam ter, e tiveram em efeito, navegantes atrevidos que realisassem expedições como a levada a bom têrmo, em 1542, por Juan Cabrillo e Bartolomé Ferrelo chegando até o 43° de latitude e descobrindo o cabo Blanco a que, depois, Vancouver chamou de Horford; a de Gaetano, na mesma data, reconhecendo algumas d'essas ilhas Sandwich a que um seculo e tal mais tarde havia de aproar e dar nome o celebre capitão Cook; a de Sebastian Viscaí

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