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Galicia, sin homes quedas
Que te poidan traballar.
Tés, en cambio, orfos e orfas
E campos de soledad,
E nais que non teñen fillos
E fillos que non teñen pais.
E tés corazons que sofren
Longas ausencias mortás
Viuvas de vivos e mortos
Que ninguen consolará;

Galiza, diziamos, iniciou em seu seio um movimento similar ao que inspirava a Provença e a Catalunha e, sob a inspiração de colectividades e individuos, sob a proteção de generosos Messenas entre os quaes merece especial referencia D. Modesto Fernandez y Gonzalez, começam a realisar-se os concursos literarios e os Jogos Floraes que, com todo o seu espectaculoso e culto aspecto, importados do levante, produziram e originaram a geração de poetas e prosistas que hoje cultivam o velho idioma galaico.

Murguia publíca a sua muito apreciavel Historia de Galiza, Rosalia Castro as Follas novas, livro para o qual Emilio Castelar escreveu um prologo; Valentin Lamas Carvajal dá á luz as Espiñas, follas e frores; Alberto Camino, poeta de sentimento e profundo conhecedor dos velhos generos literarios galaicos de origem provençal, destingue-se pelo seu ardor entre os iniciadores; em 1877 realisa-se um certame poetico em Orense em que ganha a palma do triunfo o notabilissimo Curros Enriquez com integralmente belo e perfeito poema a Virxe do Cristal e, tres annos depois, ao tempo que se realisavam em Pontevedra uns jogos floraes que coincidindo com outros que se davam na Catalunha - foram de inolvidavel efeito, publíca este autor os seus Aires da miña terra, afirmando paladinamente o ideal de restauração do idioma galego, a lingua dos

esforçados fundadores d'esse condado portucalense que é hoje este respeitado e nobre Portugal:

Fala de miña nai, fala armoñosa
En qu'o rogo dos tristes rub' ó ceu
Y en que decende a prácida esperanza
Os afogados e doridos peitos;

Fala de meus abós, fala en qu'os párias,
De trévoa e polvo e de sudor cubertos
Peden á terra o gráu d'a côr d'o sangue
Qu'ha de cebar á besta d'o laudemio...

Lengua enxebre, en qu'as animas d'os mortos
N'as negras noites de silencio e medo,
Encomendan ós vivos as obrigas
Que, mal pocados! sin cumprir morreron.

Idioma en que garulan os páxaros,
En que falan os anxeles ós nenos,
En qu'as fontes solouzan e marmullan
Entre'os follosos árbores os ventos;

Non, ti non morrerás, celtica musa
Náda d'a Suevia n'os chouzales pechos,
Ultemo amor d'o páledo Macias,
Atravesado o corazon c'un ferro.

Ti non podes morrer... Eso quixeran
Os desleigados que te escarneceron !
Mas ti non morrerás, Cristo d'as lenguas
Non ti non morrerás, ouh Nazareno!

Apóstol teu, anque o mais ruin de todos,
Pr'ónde quér levarey teu Evanxelio,
O fatelo vistindo d'inominia

Que pra mofa n'as costas che puxeron.

N'o teu nome, por terras e por mares,
Ofercerey paz e salú ós enfermos,
Falareilles da patria ós desterrados,
De liberdade e redencion ós servos.

Anunciarey o dia d'o teu trunfo
Por cibdades e vilas e desertos,
E si por t'anunciar m'apedrearen,

Inda ó morrer te mentarán meus beizos !

E, com taes brios, prosegue a marcha das novas letras galaicas. Em 1882 aparece em Pontevedra, publicada por Francisco Portela Perez, com prologo de D. Luiz Rodrigues Seoane, uma Coleccion de poesias gallegas em que figuram Eduardo Pondal, Marcial Valladares, Valentin Carvajal, José Posada, Heliodoro Cid, Francisco Fernandez Auriles, Francisco Añon, Antonio Gonzalez, José Garcia Mosquera, José Amado, Juan Saco y Arce, Castor Elices, Antonio Camino, André Muritais, Aureliano Pereira, Francisco de la Iglecia, Juan Pintor, Lino Gonzalez, Pio Cuiñas, Curros Enriquez, Garcia Caballero, Andrés Muruais, Alberto Camino, Luiz Pinto Amado, Luiz de la Riega, Domingos Camino, José Perez. Ballesteros, Victor Vázquez, Benito Lozada, Manuel Gonzalez, H. Fer Gas e Vicente Calderon. Em 1884 realisam-se em Pontevedra outros Jogos Floraes a que foi presidir, delegado pela Academia Espanhola, o proprio Victor Balaguer que, depois de falar da Provença aos galegos, teve a surpresa de se ver em sinal de confraternidade entre as regiões hispanicas - saudada em catalão pelo professor Limeses, lirico tambem de raça e de valor, e, assim, entre aparições de livros e festas de gay-saber, a abandonada Galiza, com uma pleiade abundante de poetas que com a musa e os cantares populares compartilham a melancolica e suave harmonia da nostalgica e sonhadora alma suevica, vae entrando no caminho de um futuro moral, material e intelectualmente risonho 1.

1 Nota VI in fine.

Fecundadas pelo pensamento regionalista que hodiernamente se patenteia, como luz depois de muitas trevas, em todas as manifestações de actividade, todas as nacionalidades ibericas que entraram na integração espanhola renascem a nova vida, entregues ás suas proprias energias, á sua robusta maneira de ser. Não se furtou literariamente a esta renovação a região asturiana onde, pura de todo contacto com 0 arabe, se conserva o idioma dos homens da Reconquista, de Pelaio e seus companheiros de Covadonga, e que, estimulada pela emulação, se lançou tambem, ainda que sem tanto exito como a Basconia, a Galiza e a Catalunha, n'um movimento absolutamente regional que, havendo produsido algumas pequenas produções poeticas de grande valor, se não está chamádo como seria para desejar a um prospero porvir, sempre será de beneficos resultados oferecendo á lingua castelhana o riquissimo lexico que o dialecto asturiano, ou bable, tem em seu seio e ao qual como a natural e legitima fonte pode ir buscar riquêsa, segundo o pensamento um dia manifestado pelo ilustre Jovellanos, a sonora, robusta e já riquissima lingua das Castelas.

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E, que mais se podia desejar?, o regionalismo literario entrou e recebeu bom acolhimento até nas regiões que não teem idioma proprio: no Aragão, na Andalusia, na Estremadura e até em Castela! Em todos estes pontos, influenciados pelo exemplo da Catalunha e depois d'um trabalho nunca suficientemente agradecido de folk-loristas distintos, poetas e prosadores de merito lançam em paginas vibrantes de luz não só as scenas tipicas, os costumes locaes, as notas de côr da vida campesina, mas até os modismos da linguagem, os provincialismos pitorescos que enriquecem o idioma.

É Pereda, o incomparavel romancista Pereda, na

provincia de Santander; é José Maria Gabriel y Galan, o poeta de Las sementeras e da Castellana, em Salamanca; é Francisco Rodriguez Marin em Sevilha; são centenas d'eles de nomes menos conhecidos, em todas as provincias, e todos, todos sem faltar um só, animados pelo patriotismo de provincia, pelo patriotismo de região, que é origem e base unica e insubstituivel do verdadeiro patriotismo de nação e de imperio, exploram uma até então inexplorada mina, e expondo á luz do sol os refulgentes reflexos do rico minerio que arrancam á terra iberica e que se encontravam latentes nos cantares sevilhanos, nas tradições aragonêsas, nas lendas mouriscas granadinas e cordovesas e, austeras mas grandiosas, na tristesa sem limites da planicie castelhana, fonte de energias viris e de altas emprezas, tornam conhecidos tesouros nunca sonhados, e provocam, em todos os peitos nobres dos filhos d'essa mesma terra hispanica, dois gritos simultaneos de admiração e de agradecimento de admiração ante tanta maravilha acumulada na velha e idolatrada Hispania, de gratidão para com a Providencia que lhes concedeu a graça de verem a luz em tão abençoado solo.

CAPITULO V

O regionalismo politico

A principio todo o movimento de renascença regional, mesmo confinado no terreno literario e artistico, lutou com grandes dificuldades inherentes á obra de todos os apostolos de uma nova ideia.

A patria de Cervantes encontrava-se, n'aquela epoca, na situação de um homem que depois de destruir o antigo solar, a casa em que seus paes viveram e morreram, ainda não construiu sua nova mora

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