Imágenes de páginas
PDF
EPUB

ministro de Portugal em Bruxelas, e mediante Oldoini, plenipotenciario de Italia em Lisboa, propozeram a Los Rios, embaixador de Espanha, e ao marquês de Nisa, seu amigo e auxiliar na empreza de mover o animo de D. Fernando a aceitar a corôa iberica, a candidatura do principe de Hohenzollern que, mais tarde havia de encontrar no deputado Salazar y Mazaredo um apostolo entusiasta 1.

Da primeira tentativa desembaraçou-se Fontes Pereira de Mello por meio de um estratagema ainda não suficientemente estudado em que entraram como comparsas interessantes figuras, vivas algumas ainda, mortas outras recentemente. A segunda, que poderia ter vingado se o general Prim a houvesse protegido, foi excelente ocasião que perdeu a Espanha de alcançar no mundo uma aliada poderosa de quem, auxiliando-a na guerra de 1870 contra a França, houvera conquistado a gratidão ao mesmo tempo que tinha um ensejo de recuperar o Rosellon e a Cerdaña, esses territorios catalães que hoje ainda a nação gaulesa contra todo o direito detem.

Mas nada se fez então e nada se fez depois. A influencia francêsa, actuando como narcotico, deteve o braço do heroe da batalha de Castillejos, e Prim, que a tudo se atrevia, não se atreveu a dar talvez um bom rei á sua patria e um derivativo ás paixões politicas, lançando suas tropas para além Pirineus. A mesma influencia, obrando como veneno, deteve a energia de Canovas e a sagacidade de Sagasta, e a Espanha, a pezar de ter em seu trono uma rainha regente austriaca, nunca fez mais do que flirt com a triplice aliança.

Esta indecisão custou-lhe todos os desastres de

1 Emile Olivier: L'Empire liberal, tome xI.

Cuba e Filipinas; no dia do conflicto encontrou-se só, ou, o que é peor, com a Inglaterra a auxiliar eficazmente a America, e a França limitando-se a uma tão platonica como funesta intervenção.

E, hoje, sendo talvez muito tarde para retroceder, não o é para prever perigos e olhar com todo o interesse a acção germanica. Espanha não quiz a seu tempo a amisade alema, é natural que, chegada a sua vez, a Alemanha não queira a amisade espanhola e, já que falhou certa entrevista realisada em Vigo, já que em Algeciras a Espanha esteve longe de estar ao lado da Alemanha, a Alemanha pode um dia apoiar a Euskaria, senhora do Cantabrico, e a Catalunha, rainha do Mediterraneo, e dar-se mais uma vez o que se deu nas Antilhas: criarem-se ilusões fantasiosas nas imaginações populares, forjar-se uma agitação e inventar-se um separatismo como o cubano, um separatismo tão impossivel como fu

nesto.

llusões? Temores infundados?... Deus o permita! Negras são as nuvens que se encastelam no horisonte politico da Iberia; a imprudencia pode desencadear tempestades, e se bem essas tempestades, essas lutas, possam ser beneficas, se bem d'elas pode saír uma renovação frutuosa e até como a ambição sonha Portugal n'elas representar, mercê da aliança inglêsa, o papel de um Piemonte ou antes de uma Prussia na peninsula hispanica, nem taes cataclismos se desejam, nem taes horrores se não podem esconjurar.

[ocr errors]

Compreendem-no os governantes de Espanha? Não é possivel que assim não seja. Taes homens não podem desejar a guerra civil, não podem ambicionar o fraticidio. Procedendo como procedem inspiram-se unicamente n'um lamentavel empirismo que ha muitos seculos domina o governo de Madrid.

e que vae para deante sem se preocupar, sem vêr as consequencias, sem atender ás repugnancias que por toda a parte a sua obra encontra, e nada mais.

Essas repugnancias os portuguêses devem-nas compreender bem. Aqueles que representam a independencia nacional tenazinente mantida, podem sentir quão grande é e deve ser o sentimento de revolta nas regiões hispanicas ante os que as ofendem em sua dignidade e querem entorpecer a sua vida e o seu progresso.

Um povo como o português que simbolisa, dentro do conjunto de nacionalidades ibericas, o regionalismo intransigente de quem, com a consciencia de seus direitos, se não quer deixar vencer, está em disposição de poder avaliar quão grande atentado á liberdade praticam aqueles que entregaram aos rigores da justiça marcial os que se excedem no amor pela sua patria chica, amor que constitue o germem mais fecundo da prosperidade das nações, que é origem do patriotismo um dos sentimentos mais nobres que pode albergar peito humano.

Por isso este livro apela para a opinião livre de Portugal. Julgue ela do conflicto que se levanta entre o centralismo espanhol e as regiões mais prosperas da nação visinha, e, se rectamente julgar, se se recordar do que outr'ora fizeram seus avós, o apoio moral dos portuguêses não faltará aos catalães, valencianos, aragonêses, navarros, bascos, asturianos e galegos ora ameaçados por um despotismo cego e, portanto, feroz.

E... talvez que um dia esse apoio não seja inutil; talvez um dia estas frases não sejam palavras vas.

FIM

NOTAS

« AnteriorContinuar »